Saturnina

Emanuelle Anastassopoulos
2 min readOct 17, 2020

--

Franciso de Goya, 1819–1823

Ah, tempo! Aponta o ponteiro

Aos mundos escondidos

Na escuridão do infinito

De fora, de dentro.

Qual Narciso é pensar que só eu

Existo no meu tempo

E só meu tempo,

Em mim existe.

Raríssima!

Existo flutuando, sozinha?

Assim, tão completa

Que não fui construída

Por ninguém, senão por mim?

Apartai, liberal!

Que sou o que éramos,

Poderei ser, pois, o que somos.

Quem sou?

Agora, não posso saber.

Saberei quando o tempo

Terminar de passar.

Que quero?

Para mim, como hei de querer?

Se querendo,

estando no mundo,

Formo a ti, além de mim.

Por saber que sou o que és, leitor,

Serei o que leres; seu entender.

Logo, me adianto:

Que queremos?

Partamos aos desejos

Pelo futuro do pretérito;

Pela conjugação dos sonhadores,

Sonhemos o que seria de nós,

Se não tivéssemos que estar assim.

Conjuguemos, companheiros,

O verbo que queremos

No tempo que temos.

Imaginemos, o que seria

Se não tivéssemos que estar assim.

Criemos, pois, esse terceiro ser.

Nossa arma, são os “se”

Do tempo que ainda não chegou.

Nossa língua, nossa agulha, nossa linha.

Ah, como seriam melhores

Os tempos sem os algozes!

Que nos tirem a caneta!

Mas a palavra viva

Do além-espaço, guardado no campo imaginário.

Nunca poderão nos tirar

A conjugação do verbo

Sonhar, sonharíamos.

Fazer, faríamos.

Sonhamos; faremos.

Não nos tirarão a

Imaginação de outro lugar.

A alternativa de outra vida

Nos é assegurada pela justiça da linguagem,

Mãe, juíza, revolucionária.

Percebe que tantos

Sonharam, imaginaram,

Angustiaram, gritaram,

Atacaram, fizeram,

Construíram, acreditaram.

E se assim foi,

Assim poderá ser,

E seria se não fosse como é,

E pode mudar pois já mudou antes e

Assim abriu a possibilidade do será.

Na matéria fica o que foi e é.

Pois se ao ver, existe em ideia,

Existe também em linguagem,

E assim naquele minuto

E nos minutos futuros; vivo se faz o ido.

Assim é o tempo:

Deus morto, mumificado.

Quer receber sacrifícios;

Lágrimas, risos, neurônios.

Ao se alimentar, ressuscita

No presente, bem dentro de ti.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

--

--

Emanuelle Anastassopoulos
Emanuelle Anastassopoulos

Written by Emanuelle Anastassopoulos

Escrevo o que me sussurram. No BS é @manuanasta.bsky.social

No responses yet

Write a response