Ganhos e Perdas

Corre o jovem com a vida
sem saber o que lhe espera,
sabe só quem outrora esperou,
que correndo a morte se apressa.
Corre a criança
da morte; para ela.
Velhinha, entedio-me;
varro e vejo sujar;
gozo no resigno.
Quanto a morte, só em pensá-la
sinto-me mais umbigo;
não apresso o passo,
nem rejeito ou brigo.
Enrugada, reverencio o espaço;
assim o peso do tempo me desprende.
Na rua, ouço a surda poética
da vida presente.
Nos olhos labutados do pedestre,
estudo a magia de haver gente.
Aos meus ouvidos sopra o vento
que vem de longe e tudo sabe, pois tudo toca.
Quando nasci, já estava aqui;
o respiro desde o parto sem notar,
no profundo enfado de respirar,
que levo aos alvéolos a sabedoria inteira
dada a nós, só sabendo reparar.